Mãe Jovina
Por: Abdias
Gomes da Silva
Jovina Nogueira – Mãe Jovina veio para Ruy
Barbosa em 1937, estava em Salvador com meu velho pai em tratamento médico,
hospedado na Sertaneja na Rua Saldanha da Gama, nº 39. Quando um dia ás 7:00 hs
da manhã, entra um carregador com uns baús trazendo Jovina que havia chegado no
vapor de Canavieiras, precedente de Aracuaí, cidade mineira sua terra natal.
Veio a Salvador a procura de um emprego em
um hospital com objetivos de trabalhar como enfermeira, pois era a sua vocação
(cuidar de doentes). Dizia ela: Deixei a minha pátria, pois meus pais odiavam a
profissão que eu queria seguir e isso foi o que me trouxe a Salvador.
A partir do dia seguinte, ela começou a
andar a procura de um emprego, mas era sempre enganada “venha amanhã” Jovina
perdeu a esperança de trabalhar como enfermeira e não teve mais condição de
andar. A dona da pensão a expulsou de lá afirmando que não tinha condições de
mantê-la. Jovina começou a chorar e aquela cena me comoveu, levantei-me e disse:
- Assumo a responsabilidade de toda despesa desta pobre criatura. Ela não
venderá nada dos seus pertences até que eu vá a Ruy Barbosa.
Peguei o vapor para Cachoeira. Na manhã,
pegamos o trem em São Félix até a estação em Itaíba. Pegamos a Marinete para
Ruy Barbosa, cujo carro era de propriedade do Sr. Alfredo Hayne, era o único
tipo de transporte que existia naquela época.
Em 28 de janeiro de 1938, cheguei em Ruy
Barbosa trazendo-a comigo. Entreguei-a as meus compadres João Batista e Saló,
um casal que se dedicava a fazer milagres com especialidade ás pessoas humildes
que necessitavam de amparo.
No dia seguinte a mesma foi à procura de uma
casinha para alugar. Dei para ela, na época, trinta mil réis. Com isto ela
continuou na sua vocação, mas sempre perseguida por alguns médicos daquela
época. Havia os seguintes médicos: Dr. Aminthas Brito, Dr. Álvaro, Dr. Paiva e
Dr. Mendonça, os dois últimos eram quem mais a perseguia. Porém ela, mesmo com
a perseguição, atendendo não só na cidade como também em todo município. Não
olhava a distância, atendia a todos que a procurava. A pé ou a cavalo, com sol ou com chuva, ela
não media o sacrifício para atender os mais necessitados.
O primeiro parto que ela fez nesta cidade foi
o da minha esposa, quando nasceu a minha fila Almerinda, em 26 de maio de 1938.
Senti-me tão feliz que dei minha filha para ela batizar. Hoje minha filha é
formada e mora em Vitória da Conquista onde exerce a profissão de professora.
Meus
caros amigos e conterrâneos gostaria eu que fosse um escritor para escrever com
mais detalhes a vida da inesquecível comadre Jovina que hoje se encontra na
mansão divina junto aos anjos e aos pés de Deus.
Mãe
Jovina nasceu em 22/11/1904
Faleceu
em 04/08/1983
Abdias Gomes da Silva
Fazenda Limeira, 20 de agosto de 1983
Ibiquera - Bahia